terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os caos aeroportuário e a Copa no Brasil

Muito já se falou sobre este assunto, sobretudo, na dita crise área de 2006, cujo estopim foi o chamado "apagão". Assunto esse, que aparentemente já é considerado encerrado. Mas será mesmo?

Venho utilizando o sistema aéreo internacional basicamente desde 2004, ano em que comecei a trabalhar na área de tecnologia de varejo. Tive a oportunidade de conhecer vários aeroportos pelo Brasil e pelo mundo, levando a inevitáveis comparações.

Por exemplo: o aeroporto de Curitiba (Afonso Pena, que na verdade fica em São José dos Pinhais) é dito internacional, com ridículos dois vôos (Uruguai e Argentina) não diários de passageiros. A principal razão deste aeroporto ser internacional é, na verdade, por questões comerciais de transporte de carga. Os dois vôos de passageiros são mera formalidade. Ou seja, quem precisa sair de Curitiba com destino a qualquer lugar fora do Brasil, tem que obrigatoriamente passar por Guarulhos, Galeão, Confins e/ou Brasília - sendo o primeiro o mais utilizado.

Considerando que essa condição aeroportuária de Curitiba não é exclusiva da cidade, temos uma situação em que, dentre todos os 137 aeroportos com terminais no país, no fundo no fundo, apenas 4 são realmente utilizados em sua plenitude. Levando-se em conta a dimensão do país, é uma situação bastante assustadora.

Ok. Então devemos concordar que na verdade o caos aéreo foi causado por um mal balanceamento da utilização dos aeroportos? Em parte sim, mas não unicamente. É notório o crescimento do país desde os idos de 1994, com a implantação do plano Real. Justamente por causa do pouco tempo que estes 16 anos representam (em termos de preparação de infra-estrutura), é claro que o país cresceu muito mais do que suportaria e que ainda assim, recebeu menos investimento do que deveria.

E este domingo (19/09/2010), a comprovação estava lá pra quem quisesse ver.


Com a esfarrapada desculpa de que "chegaram 6 vôos internacionais com uma média de 250 passageiros em cada um", um único segurança da Receita Federal tentava, em vão, quantificar o tamanho do estrago tentando achar o fim da fila. Fila? Exatamente que fila? Homens, mulheres, crianças, idosos, brasileiros e estrangeiros se acotovelavam no estreito corredor que margeia a área de embraque/desembarque internacional do aeroporto de Guarulhos. A desculpa dos 6 vôos era repetida à exaustão pelos poucos funcionários da Receita e da Infraero disponíveis no lugar. E cada vez menos funcionários eram vistos.


Por acaso esses 6 vôos chegaram de surpresa? Ninguém sabia deles? Detalhe bastante interessante é que pelo menos nos últimos 5 anos, todo santo domingo (sem falta), estes mesmos 6 vôos internacionais aterrisam em Guarulhos por volta das 06:15 da manhã. Às pressas, mais pessoas foram convocadas para dar vazão à imigração. Acho que foi a primeira vez que vi todos os postos de trabalho ocupados e funcionando. Infelizmente não pude tirar fotos deste local pois é proibido. Algumas pessoas tentaram e foram invariavelmente retiradas da fila.


Passada a imigração, o caos parecia aumentar de tamanho. Não havia espaço suficiente nas 8 esteiras (3 delas recentemente adicionadas) disponibilizadas para entrega de malas e as mesmas já começavam a cair e se amontoar em volta do local. Dei graças a Deus por ter achado minha mala, abortei a ida ao Duty Free e fui batalhando meu espaço numa débil fila formada pelo esforço das pessoas que estavam lá vivendo aquele mesmo inferno que eu. E novamente, continuavam a sumir os poucos funcionários da Infraero que ainda estavam por ali.


O balcão de malas perdidas era uma coleção de palavrões e discursos desesperados e muitas pessoas tentavam a todo custo "se dar bem", furando fila e, consequentemente, esperando menos que os outros. Lei Gérson na sua maior plenitude e aplicação.


Pensem que estas são as primeiras imagens que um estrangeiro vê do Brasil. Pensem que durante a Copa de 2014, ao invés de 6, vão chegar 12, 16 vôos ao mesmo tempo.

Quatro anos não é nem de longe o tempo necessário para renovar os absurdamente caquéticos, ultrapassados, mal planejados e mal distribuídos aeroportos brasileiros e a situação não está melhorando.

Isto tudo aconteceu num fim de semana comum. Sem feriado, sem férias. Nada. Um domingo como qualquer outro.

Portanto, que venha a Copa!

Assim quem sabe mais gente fica sabendo deste bacanal aéreo em que vivemos e que talvez a vergonha de escancarar isto tudo para o mundo faça com que alguém se mexa para conseguir corrigir tudo isto. Ou que tudo dê tão retumbantemente errado que a Fifa desista de orgnaizar a Copa por aqui e convoque um país plano B, que com certeza, já está de prontidão e preparado para segurar a bucha.

Nossa, isto ainda existe?

Em breve alguma coisa aqui.

Sim, de repente eu lembrei que isto existia.